segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

ADORÁVEIS EX - CAP. III

 CAPÍTULO III - UM NOVO TIPO DE CORNO


Quando digo que nem tudo que reluz é ouro, não quero dizer que não tenha havido luz. A verdade é que quando somos adolescentes tudo parece um drama de novela mexicana.


Naturalmente as relações não são tão retas e definitivas. Elas possuem sua complexidade.


Em uma noite no fim de primavera beijei a ruiva magrela pela segunda vez, e foi tão bom quanto o primeiro.


Sempre havia muita gente perto, e ela demonstrava sua timidez ou não. 


Ela se uniu a trupe de teatro e passou a frequentar os ensaios. Após cada ensaio eu a levava no ponto de ônibus, eram caminhadas onde conversávamos sobre o que cada um queria de sua vida futura.


Ela dizia que queria ser médica ou talvez seguisse pelo ramo do Direito. Parecia confusa e eu não tinha ideia do que fazer.


Eu sabia que amava o teatro, morria de medo de não ter grana para ser independente. E o teatro nunca trouxe certeza de trabalho remunerado. As incertezas da profissão me faziam pensar em outras possibilidades.


Ser advogado era um sonho do meu pai. Para ele, era algo pendente em sua vida, e eu não queria resolver pendências dos meus antepassados. Até porque como um adolescente metido a ser original, queria eu seguir minha própria história.


As noites de primavera eram lindas, o céu estrelado e um calor na medida do agradável. Mas a ruiva sofria com o o calor, ela sempre reclamava dele, e eu achava uma graça ela reclamando.


Em uma dessas noites andamos no caminho contrário, encontramos um banco no canto de uma calçada. E ali sentamos e trocamos carícias.


Nesse momento não havia tensão sexual ou pensamentos mais quentes. Era apenas a carícia pela carícia, afeto pelo afeto.


Coloquei a cabeça em cima das pernas dela. E ela fazia carinho no meu cabelo e pescoço. Lembro-me de ter um primeiro arrepio com um beijo dela no meu pescoço.


Enquanto o romance se passava em minha cabeça, o tempo sensivelmente rolava em uma leve batida, os minutos se tornaram horas e a música ao fundo de uma das casas dava o tom de minutos dos quais, eu não queria que passassem. A música era Só Hoje da banda Jota Quest.


Ela usava um batom de gosto doce e de cheiro agradável, me lembro de ir para casa sentindo esse cheiro e me orgulhando de ainda manter o seu aroma no corpo.


O amor parecia ter sorrido pra mim, parecia que era o início de uma linda história.


Dias depois organizamos um evento no espaço de cultura. Um Sarau Cultural com vários convidados. Realizamos a apresentação de algumas esquetes de teatro, eu apresentei um personagem cara de pau que mentia para várias mulheres. 


A plateia riu, mas para mim não estava completo, a ruiva magrela ainda não havia chegado.


Quando terminamos as apresentações, fomos para a parte de fora do salão. Haviam exposições de artistas plásticos, entre uma obra e outra, meu olhar saiu de uma das lindas obras e avistou ela, o amor em forma de mulher.


Ela vestia um vestido verde, e uma bolsa preta, com sapato baixo, mas quando passo o olhar para o lado, me dou conta que ela chegou de mãos dadas com um moreno alto, forte, de cabelo liso, com uma camisa cinza e bermuda preta.


Parecia um casal, meus olhos não podiam crer. Seria eu um corno antes mesmo de ser?


Em um momento de distração do moreno alto, fui falar com a ruiva, que me pediu para falar baixo, pois o namorado não podia ouvir o que eu dizia.


Sim, eu não era corno, eu era um amante desinformado e de romance iludido . Afinal não se pode ser corno, se você chegou depois, não é mesmo?!


Sofri, e sofri, o verão de 2003 ainda recém começava, e já tinha previsão de ser longo. Eu tinha 16 anos e o tempo era uma criança ainda, eu só teria que descobrir isso….


Ps: talvez essa história seja baseada em fatos reais, talvez não.

Alexandre Oliveira

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