quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

ADORÁVEIS EX - CAP. I

Capítulo I  - Entre a Morte e a Morena


Essa não é uma história de amor, mas uma história sobre o amor. Pensamos sempre no amor como construção de uma linda história com momentos memoráveis. 


A verdade que os momentos memoráveis não são necessariamente bons, mas são fundamentais para entender a complexidade humana e justificar o que por vezes tentamos esconder, somos mocinhos e somos vilões na mesma história.


Acho que quando adolescente assisti a muitas comédias românticas e me encantava com os finais felizes. Hoje vejo que me sentia bem com um final apoteótico em um romance que ficava no ar.


E talvez seja assim em parte, mas o fim do romance é o início da vida real. É complicado manter a história de amor frente as responsabilidades da vida, são poucos que conseguem superar as dificuldades e se manter no plano, e manterem-se juntos no plano.


Tive inúmeros encantamentos, poucos amores. Quando adolescente escrevia cartas, a cada ano elas eram rasgadas por garotas diferentes. Vivia a utopia do romance juvenil, abastecido pelo clichê cinematográfico do amor à primeira vista e do felizes para sempre.


O ano era 2002, eu recém havia voltado a estudar no CEJB. Após meses de greve do meu colégio anterior, decidi voltar ao colégio onde provavelmente havia sido mais infeliz até então.


A mudança parecia ter sentido, visto que era o único colégio público tendo aula naquele momento. Eu estaria perto de primos que estudavam no mesmo lugar.


De alguma forma eu sentia que seria apoiado. Na prática eu nunca estive tão isolado até então. Me sentia sozinho mesmo com pessoas ao lado. Foi quando descobri que é possível estar só, mesmo estando cercado por muita gente.


As coisas mudam quando conheço Letícia. Uma menina engraçada e desengonçada que chegou ao colégio no segundo semestre daquele ano.


Ela era falante e chegou ao colégio por meio de uma amiga que fazia teatro com ela. Elas eram muito amigas, e estavam apresentando uma peça de teatro chamada “O diário de Anne Frank”.


A peça era pesada, tratava de uma família judia escondida por um amigo durante o período dos nazistas.


O tema era sensível para a representação de adolescentes. E mesmo interpretada por um grupo de adolescentes de colégio público, havia ali uma força imensa.


Era um talento imenso, parecia brotar da natureza. Tinham interpretações épicas. E neste processo, eles começaram a ensaiar uma peça sobre uma família abalada pelo uso de drogas de um dos filhos.


Necessitavam de novos atores, e foi aí que entrei. Eu interpretei o pai do filho dependente químico. Era curioso porque eu tinha apenas 16 anos.


A este ponto eu era um esperançoso, alguém que por mais que trouxesse uma melancolia na mochila, tinha a esperança que o dia seguinte seria melhor.


Vale ressaltar, que quando entrei no teatro ainda sonhava com meu primeiro beijo. E se discutia à época o beijo na peça de teatro em questão.


Não queria beijar em uma peça, queria que o primeiro beijo fosse especial. Mas no mundo real as coisas nem sempre rolam assim.


Letícia tinha uma amiga de 13 anos, que já tinha uma vasta experiência em beijos de língua. Minha turma da escola havia feito uma reunião para me zoar por ser um “boca virgem”.


E em uma noite de inverno sai para minha primeira balada “adulta”. Meu irmão mais velho me levou. Nessa noite eu avistei uma garota, e fui pela primeira vez pedir para beijar alguém cara a cara, sem cartas e adjetivos, mas com verbos e olhos nos olhos, naturalmente tomei o meu primeiro “toco”.


Meu irmão gostava de levantar a moral dos irmãos, e contou para todos que eu beijei a tal garota depois de um desenrolo épico.


Naquela noite houveram ventos de mais de 120km em nossa cidade. Obviamente todos associaram o beijo ao fenômeno natural, e ninguém me deixou em paz, zoavam o tempo inteiro sobre este tema.


Eu envergonhado senti a pressão, e em uma caminhada após um ensaio do teatro, apelei e resolvi beijar a experiente beijoqueira de 13 anos, amiga de Letícia.


Ela que fazia papel da “morte” na peça que ensaiávamos, nem sequer trocamos uma palavra. Foi um beijo de olhos abertos, me lembro dos meus olhos estarem de frente para um poste de luz, e meus olhos doerem com tanto brilho. Me recordo que ela só me beijou porque eu já havia beijado outra, e nem fui eu que contei. Tentei desmentir várias vezes, ninguém acreditava. 


Quando terminamos não soube o que fazer, ia embora? Dava as mãos? Perguntaria seu filme favorito? Eu não fazia ideia, mas a parte boa dela ter uma certa experiência, era que ela sabia o que fazer e por sorte foi embora.


Depois daquilo a beijei mais uma vez, ela disse que estava apaixonada e eu estava com seu perfume favorito, perguntou se eu queria ser seu namorado, e eu disse sim, sobe pressão, mas disse sim.


Detalhe: eu fedia muito este dia, algo estava errado.


Me arrependi do “sim” ao andar na curva seguinte caminhando.


Nesse momento pensei que havia algum problema com a experiente morte beijoqueira. E por algum motivo voltei ao galpão do teatro naquela noite, e encontrei uma carta de outra menina do teatro.


Na carta ela declamava um poema e dizia que estava afim de mim. A garota era linda, tinha um baita sorriso, uma bela morena. E eu de melancólico esperançoso solitário, passei a ser um “galã” com duas opções.


Como em uma bela comédia romântica o protagonista não tem sorte na hora certa. Como eu diria sim a bela morena se já havia me comprometido com a morte beijoqueira antes?


Foi o dilema de uma noite inteira. Eu não era apaixonado por nenhuma das duas, mas me parecia mais interessante arriscar um beijo na bela morena e ver o que rolava. Fazia mais sentido arriscar no novo a dar mãos ao fúnebre relacionamento recém iniciado.


Pois bem, no dia seguinte fui conversar com a morte beijoqueira, que a essa altura já sabia o que eu pensava, e antes que eu tomasse a palavra, já me presenteou com meu primeiro pé na bunda.


Relacionamento terminado, era hora de me jogar no novo e de me arriscar ao beijo com a bela morena. Quando cheguei para a conversa, ela já tinha a notícia que eu tinha começado um relacionamento. Eu disse que havia terminado, mas não adiantou, a bela morena se sentiu preterida, e movida por um orgulho e amor próprio, disse que não queria ser a segunda opção de ninguém.


E foi assim que no mesmo dia tomei um pé na bunda de dois relacionamentos que nem existiram.


E foi naquele ano que aprendi que as vezes o mocinho da história se torna vilão através da sua falta de atitude na vida.


Mas o segundo semestre de 2002 estava só começando e mal sabia eu que o amor ainda bateria a porta pela primeira vez.


Mas isso é tema do próximo capítulo…


Ps: talvez essa história seja baseada em fatos reais, talvez não.


Alexandre Oliveira

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