Há uns anos atrás e até hoje vem se discutindo muito sobre o
limite para brincadeiras entre amigos, trotes em faculdade e etc. E esta semana
me peguei relembrando situações do passado, situações não tão legais de se
lembrar, mas que valem uma reflexão, e assim resolvi escrever, postar e aqui
estou.
O ano era 1997, eu sentia muitas dores de cabeça jogando
videogame, como era viciado nos jogos, minha mãe achava que o excesso estava me
fazendo mal, ao levar no Hospital, se constatou que havia um problema, e teria
que usar óculos. Como eu já naquela época sofria com a zueira dos “amigos”, minha
mãe achou por bem me dar óculos que me dessem conforto, deixando escolher
aquele que fazia eu me sentir melhor. Ela trabalhava como vendedora, e tinha
meses que ganhava bem e outros que nada ganhava, mesmo assim me deu óculos que
custaram R$457,00, uma fortuna para época, parcelou em suaves prestações de
R$45,70, ou seja, em 10x no cheque.
Confesso que não gostei de ter algo em cima do meu nariz, no
entanto me senti o verdadeiro Clark Kent, e achava até que as garotas olhavam
mais para mim. Porém alguns meninos não ficaram muito felizes com meu “sucesso”
e resolveram fazer uma pequena brincadeira.
Eu guardava os óculos em uma mochila e ia para o recreio,
durante um desses dias eles entraram na sala e roubaram os óculos, e puseram
uma dúzia de pedras dentro da mochila. No que cheguei em casa chorando, não
sabia como explicar a minha mãe o ocorrido, afinal por medo da retaliação não
havia comunicado ao colégio, coisa que minha mãe tratou de fazer para o menino
de 11 anos.
A Dona Graça foi ao colégio e fez um baita barraco, tipo
mulher do gueto em supermercado Guanabara em promoção. O fato é que ela comprou
outro e exigiu reembolso do colégio. Tempos depois, o acessório roubado
apareceu novamente na minha mochila e eu fiquei com dois óculos.
Quatro anos depois do ocorrido, eu vinha de um ano
traumático e estava feliz por estudar em um colégio onde tinham pessoas apenas
da minha faixa etária. O Ano era 2001, não existia celulares populares, o
telefone fixo ainda era muito usado, Wherever You Will Go do The Calling era a
música mais tocada, minha novela favorita “Um anjo Caiu do Céu” havia terminado
há pouco. Era o ano que eu imaginava que meu primeiro beijo deixaria de ser um sonho
bobo de comédia romântica, apenas “era para ser”.
Eu achava que estava tudo bem, era goleiro do time da sala
que se preparava para o campeonato do colégio. Me dava bem com todos, era amigo
das meninas mais gatas e das mais feias da sala. Tudo ia bem, até o dia 10 de abril
quando completei 15 anos, oito garotos resolveram fazer uma brincadeira.
Eu estava sentado na mesa do professor, um dos meninos veio
pela frente e me distraiu, enquanto os outros sete vieram por trás e me deram
uma série de dezenas de tapas na nuca, a ponto de deixar inchado o pescoço e
parte das costas. Chorei, chorei muito, eu não era popular, mas estava
sobrevivendo e naquele momento eu percebi que o bom ano havia acabado, as
meninas ao me ver daquele jeito disseram para eu comunicar a coordenação. Mas
eu não era um X9, eu pensava: “não vou fazer isso com eles, afinal eles são
meus amigos”.
Minutos depois de muitas lágrimas no pátio do colégio, uma
das coordenadoras aparece chamada por uma colega da sala e me pergunta o que
ocorreu e eu não menti, contei o ocorrido e assim começou meu inferno astral de
2001.
Os meninos foram levados a coordenação e os oito foram
suspensos por uma 1 semana. Ao retornarem, não pouparam esforços para que eu
ficasse o máximo isolado possível, não pouparam esforços para que eu fosse
achincalhado por metade da turma, e claro, não pouparam esforços para ridicularizar
o menino romântico que estava gostando da menina mais bonita da sala, e as
meninas sentiam mais pena ainda do menino bobo. No futebol o fair play acabara,
fui retirado do time e nas aulas de educação física o esporte passou a ser me
machucar dentro das “regras da esportividade”. Assim resolvi nas aulas de
educação física ir jogar basquete sozinho na quadra anexa. No ano seguinte
resolvi enfrentar e ficar no colégio para tentar superar as relações mal
construídas de 2001, mas o colégio entrou em greve e tive de ir para outro,
infelizmente, pois adoraria ter aparado as arestas e superado aquilo
civilizadamente fazendo todos perceberem o quanto éramos pequenos naquela
situação e que poderíamos sim, ser amigos de verdade que superaram problemas
bobos, entretanto quis o destino que cada um seguisse para um lado.
Não é todo jovem que supera tudo como superei, e segue a
vida tomando como lição aquilo que se passou. A maior parte das pessoas que me
conhece não sabe dessas duas histórias. Assim como não sabemos as histórias de
tantos que estão tão perto agora, não sabem o que as levou até ali, da onde
tiraram força para tanto e como alcançaram seu sucesso pessoal.
Contudo, o mais importante é perceber que uma
criança/adolescente não tem poder de decisão e capacidade de entendimento
suficiente para saber lidar com situações de agressões físicas e morais, sem a
ajuda de adultos responsáveis e cuidadosos. Um adolescente já é capaz de saber
quando fere um outro colega, mas certamente não é capaz de sofrer calado e
superar sozinho uma agressão moral. Zoação é normal, mas só é saudável quando
todos em um grupo tem a mesma liberdade de brincar, de zuar e ser zoado, pois
isso sim é uma brincadeira entre amigos. Precisamos olhar por aqueles que
necessitam de nós, tratar os iguais como iguais, e os desiguais com
desigualdade. O jovem tem que ter o dever social de arcar com as
responsabilidades dos seus atos, pois quem deve sofrer é o agressor e nunca o
agredido, pois a zueira tem limite!
Reflitam!
Obrigado
Abraços e Beijos
Alexandre Oliveira
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